Tinha na cabeça uma peruca channel azul claro que atraia olhares juntamente com minha meia roxa acima do joelho e meu tênis rosa. Já passavam das 22h, o bloco carnavalesco que saiu da praça Roosevelt cantava
a mesma música há mais de 1 hora, sentia dores nas pernas, nos pés e nas costas. Irritada, cansada, preocupada com outras coisas, só pensava em ir embora.
Encostei no muro do Viaduto Major Queridinho -
excelente nome - para analisar a vista, respirar, pensar na vida. E se eu me jogasse, teria a sorte de morrer na hora? Porque se for pra me jogar e fracassar, ficar de cama, não quero. Será que atrapalharia muito o trânsito? Será que machucaria algum motorista? O que iriam fazer com minha peruca? Será que o bloco iria parar de tocar essa música infernal? Como será a sensação da queda? O vento no meu rosto e nos meus cabelos artificiais me provocava, me chamava dizendo:
vem voar comigo.
Na minha alucinação fechei meus olhos e respirei fundo mas, fui interrompida por um mascarado que disse:
- Você atende pelo nome de Penelope?
Com tantos e tantos nomes no mundo, porque ele disse justo o da minha amiga que se foi há 7 anos? Me arrepiei inteira e depois de ter dito não para ele, tive que conter as lágrimas para não borrar a maquiagem. Ele continuou, brincou se eu atendia como "
Pepe" e disse que eu parecia ser uma pessoa legal. Meu desejo no momento era esconder as lágrimas, abraça-lo e agradece-lo, mesmo que ele não entendesse.
O viaduto sumiu para mim, assim como os carros que passavam, meus pensamentos voaram para longe com o vento. Eu tinha que sair dali. Aquilo só me deu mais coragem para seguir em frente, me deu forças, me deu a paz que eu procurava.
Sai antes que o bloco terminasse, deixei meus amigos, medos e o que me consumia por dentro para trás, cheguei em casa e chorei até soluçar.
Neste Carnaval tive que tirar a máscara que anos carregava e de todos os foliões teve um que foi meu
queridinho.