terça-feira, 3 de julho de 2012

Sombras

        Sai do ônibus pela porta mais cheia de gente, é normal trombar, esbarrar nas pessoas que se aglomeram ali. Pedi desculpas, continuei descendo os degraus até chegar a rua. No ponto mais um monte de pessoas que como pedra não saiam do lugar, mesmo pedindo "com licença", o jeito era seguir em frente, como num bate cabeça num show de rock com os cotovelos a frente e vamos passando.
         Quando
cheguei na esquina para atravessar , depois dessa aventura desumana, vejo duas sombras ao meu lado - como não prestei atenção nisso antes? Meu sexto sentido aranha não me alertou dessa situação, ou talvez meu fone de ouvido estivesse muito alto impedindo ouvir vozes e ruídos ao meu redor; empolgada com a música nem reparei que tinha alguém ali do meu lado.
        Eram duas pessoas, um homem e uma mulher. Olho de relance para os lados para ver quem era, reconheço aquelas pessoas da esquina passada, do ônibus talvez, mas, não tenho certeza. O coração que havia parado no segundo passado agora acelera junto com o frio na espinha e com os passos que dou depois que o farol abriu. Acelerei, trombei com mais outras pessoas, desviei de um poste, adrenalina fazendo efeito, seguro minha bolsa para caminhar no mesmo compasso que eu, mais um farol na minha frente e verde ainda por cima. O casal se aproxima, os carros passam numa velocidade assustadora, não há espaço, vácuo que eu possa correr, me arriscar a chegar do outro lado, antes que eles chegassem até mim. Quais os planos?? Atravessando essa rua, passo 3 casas e chego na minha, e agora? E se eles me seguirem até lá?
        Enquanto atravesso a rua pensando num plano mirabolante, procuro minha chave dentro da bolsa, agarro ela tão forte como se aquilo a ajudasse a virar um Transformer para me proteger. Ainda ofegante chego em  casa com as sombras atrás de mim, ele na minha calçada, ela na outra; paro em frente a minha garagem, eles continuam andando e eu entro. Pronto, virei a chave, estou salva, o mundo está atrás da porta de madeira na minhas costas, respiro aliviada, aqui ninguém me segue.
        Só quem já teve medo da própria sombra sabe o que é temer.

Que não nos falte a inspiração, amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário